terça-feira, 3 de setembro de 2013

Internet o novo símbolo de resistência !











                                                          O axioma da internet 


                                                                                by blog@helenaklang.com

A Era da Internet pressupõe o compartilhamento do conhecimento produzido pela 
chamada Sociedade de Rede (Castells, 2001). Foi para trocar informações e descobertas da 
big science que pesquisadores americanos desenvolveram os métodos de interconexão entre 
computadores. Liberdade e cooperação são premissas fundamentais da Internet porque são os 
valores básicos da cultura que a criou: “a cultura da internet é a cultura dos criadores da 
internet.” (ibid:34)
A internet começou a nascer no final da década de 50. Nos primórdios, era uma rede de 
comunicação entre universidades - os primeiros pontos de conexão - cujo o objetivo era 
proporcionar o compartilhamento de descobertas científicas e tecnológicas que garantissem a 
supremacia militar americana frente a seu oponente político: a União Soviética. Para investir 
alto num projeto bastante vultuoso – daí o termo big science – não havia estímulo maior: a 
Guerra. Assim surgiu o programa Arpanet, dentro da agência ARPA - Advanced Research 
Project Agency – pertencente ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A vontade de 
vencer teria estimulado as elites de pesquisadores, as tecnoelites (Castells, 2001) - para quem 
a tecnologia era um instrumento que permitiria ao homem o controle do mundo - a se 
superarem, formando uma nova rede interdisciplinar de produção científica.. A Guerra Fria 
foi a principal força motivadora para a criação da internet.
Para Castells (2001:34), a cultura da internet se apresenta em quatro dimensões: a cultura tecnomeritocrática, a cultura comunitária virtual, a cultura empresarial e a cultura 
hacker.

Estas dimensões também permeiam o raciocínio de Fred Turner (2006), que apresenta 
o conceito de complexo industrial-militar, formado pela academia, o exército e a indústria. 
Há muita confusão a respeito da definição de hacker. Ao contrario do senso comum, um 
Hacker não é aquele que invade e corrompe sistemas eletrônicos de acordo com interesses 
obscuros (roubo, fraude, etc.). Este seria o cracker, que utiliza sua inteligência e criatividade a 
serviço de atividades criminosas. Na verdade, os hackers surgiram nos anos 60, eram os 
peritos em programação que atuavam nos ambientes de inovação acadêmica pela construção 
da internet, e que cultivaram os valores e crenças específicas, a cultura hacker. 

A cultura hacker surgiu no contexto tecnomeritocrático acadêmico onde o mérito resulta 
da contribuição do desenvolvimento científico para o progresso da humanidade. A 
tecnomeritocracia se fundamenta “na tradição acadêmica do exercício da ciência, da 
reputação por excelência acadêmica, do exame dos pares e da abertura com relação a todos os 
achados da pesquisa” (Castells, 2001:37). A cultura comunitária virtual que se estabeleceu 
em prol do compartilhamento tecnológico fazia o conhecimento transitar pela rede. As 
descobertas eram compartilhadas entre os agentes deste complexo militar-industrial: 
acadêmicos, militares e as corporações que produziam todo o aparato bélico necessário para 
superar os russos, como armamentos, submarinos e aeronaves. 

Segundo Turner, o envolvimento direto de militares não significava cerceamento. Os 
pesquisadores da big science, provenientes de múltiplas disciplinas, tinham bastante liberdade 
para criar: “entre os vários profissionais, particularmente entre os engenheiros e designers, 
empreendedorismo e colaboração eram normas e a independência intelectual era fortemente 
encorajada”. (Tuner, 2006:18). O funcionamento da rede, no âmbito da técnica revela a 
igualdade (de poder) e diversidade (de origens, idéias) entre os pares: não havia um servidor 
central no comando, os pontos era conectados entre si, peer-to-peer, no que se convencionou 
chamar Rede P2P.
Metáfora Computacional
A Universidade, ao produzir conhecimento, o insumo necessário para a supremacia 
americana, havia se transformado numa máquina na qual a informação era o bem mais 
valioso: 
Este mecanismo servia a dois propósitos: primeiro, citando o estudo recente do economista 
Fritz Machlup7 sobre a crescente importância da informação para a economia, Machlup 
argumenta que a universidade gerou novos conhecimentos e novos trabalhadores para a 
emergente “sociedade da informação”. Neste sentido, tanto o economista quanto seus alunos 
concordaram que a universidade era uma máquina de informação. Segundo, ele sugeriu que 
esta máquina tinha um papel singular durante a Guerra Fria. “ Intelecto se tornou um 
instrumento de propósitos nacionais” ele escreveu, “ um componente do complexo militarindustrial.” (KERR apud TURNER, 2006:12)
Mas do que mero instrumento, a tecnologia exercia papel central na linguagem 
simbólica que surgiu durante a segunda guerra mundial. A metáfora computacional emergiu 
dos experimentos científicos americanos, quando Franklin Roosevelt foi convencido pelo 
então professor e administrador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Vannevar
Bush, a criar o Comitê de Pesquisa pela Defesa Nacional (National Defense Research 
Commitee) que ficaria a cargo do professor. O comitê8
 consumiu por volta de 450 milhões de 
dólares no desenvolvimento de tecnologias de guerra (Turner, 2006:18). Terminada a guerra, 
os centros de pesquisa cultivavam a metáfora computacional ao ponto desta figurar entre 
diversas áreas do conhecimento científico, como explica Turner citando Paul N. Edward9
:
Assim como demonstrou Paul Edward, os computadores tinham um papel central neste 
período, tanto instrumental como simbólico. Em Washington, os estrategistas do governo 
usavam computadores para modelar os efeitos possíveis de um holocausto nuclear na Dakota 
do Norte, Alaska, e em outros lugares, as forças aéreas geralmente usavam computadores para 
rastrear ataques em potencial nos Estados Unidos. Em ambos os casos, o planeta havia se 
transformado num sistema fechado de informações sob o controle e o comando militar. Ao 
mesmo tempo, psicólogos cognitivos passaram a imaginar o cérebro humano como uma forma 
de hardware digital e sua atividade como uma forma de software, o raciocínio seria um tipo de 
computação e a memória uma simples questão de armazenamento de dados. (Turner, 2006:16)


Síndrome IBM

Alunos da Universidade de Berkeley, na Califórnia, acreditavam que a transformação da 
academia em uma máquina de informação estaria comprimindo sua natureza complexa e 
criativa “to the two-dimensional dullness of an IBM card” (Turner, 2006:12). Em artigo 
publicado no Journal of American Culture, Steven Lubar10 sugere que os cartões perfurados

da IBM se tornaram “não só um símbolo para o computador mas um símbolo de alienação. 
Eles revelavam abstração, simplificação exagerada, desumanização. Os cartões pareciam 
retratos bidimensionais das pessoas [..] Passaram a representar uma sociedade onde máquinas 
eram mais importantes que indivíduos.”
O movimento de contracultura Free Speech, que emergiu nos anos 60 naquela 
instituição liderado pelo estudante Mario Sávio, protestava contra a mecanização e pré-
programação da vida, contra o que chamava de “síndrome IBM”. Para o Free Speech, a 
academia, o exército e o cartão perfurado da IBM eram um espelho do outro (Turner, 
2006:12). Sob os slogan “I am a student. Please do not fold, spindle, or mutilate me”, uma 
apropriação dos termos de uso presentes nos cartões IBM, os protestos denunciavam a 
manipulação da universidade e a incorporação da lógica operacional militar nos centros 
acadêmicos.

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